domingo, 13 de maio de 2012

Flanelinhas: a solução passa pela regulamentação




Esta semana, o assunto dos "flanelinhas" tomou conta de parte do noticiário e das postagens de jornalistas e blogueiros. No sábado, o jornalista Fábio Seixas relatou em seu blog a lamentável situação que tem enfrentado para estacionar seu carro na porta de casa. Um dia antes, na sexta-feira, Robson Morelli também tratou do tema, discutindo o problema no que tange aos eventos esportivos ocorridos na cidade de São Paulo.

Tudo começou na noite de quarta-feira, nos arredores do Estádio Municipal do Pacaembu, zona oeste da capital paulista, quando 53 pessoas foram presas pela polícia por "exercício ilegal da profissão".

No dia seguinte, no Estádio do Morumbi, zona sul, a chamada Operação Flanelinha teve continuidade, resultando na prisão de mais 26 pessoas. A previsão é que hoje, durante a final do Campeonato Paulista, a PM atue novamente no Morumbi.

Meu comentário à questão toda, e que parte da enquete promovida por Morelli em seu blog, é o seguinte:

 A única opção racional, econômica e socialmente viável para a cidade é a regularização da atividade, feita pela Prefeitura Municipal, a partir da qual seriam cadastrados os profissionais responsáveis pela cobrança de estacionamento e também pela vigilância dos automóveis. Ainda que a profissão de guardador de carros seja regulamentada e prevista por lei desde 1975, falta muita disposição por parte do poder público para solucionar o problema das atuações ilegais. 

Muito me assustaram - ainda que fossem previsíveis - tanto o caráter das opções oferecidas pela enquete promovida no blog do Estadão quanto o número de votos que cada uma delas recebeu. 

Até o momento, mais de 300 pessoas opinaram que os flanelinhas "deveriam ser banidos das ruas". Ora, e iriam para onde? Para o limbo? Para uma outra dimensão? Ainda que exerçam sua atividade de forma irregular e muitas vezes se utilizem de métodos condenáveis para obter dinheiro, eles fazem parte da sociedade e não se pode simplesmente riscá-los do mapa (como se isso fosse possível). É preciso inseri-los na cadeia produtiva, fornecendo meios para que a tarefa realizada por eles seja adequada a todos.

É impossível, nos dias atuais, achar razoável parar o carro em qualquer lugar sem que nada aconteça e sem que seja preciso pagar por isso. Mesmo nas periferias, são cada dia mais escassas as áreas livres e seguras para se deixar o carro. Longe de ser um problema específico, trata-se de uma questão que diz respeito diretamente à estrutura da cidade de São Paulo como um todo. 

O uso do transporte individual privado (o carro) é legítimo, é um direito. No entanto, diante da conjuntura crítica da mobilidade urbana, toda medida que iniba o motorista a retirar seu veículo é bem-vinda (desde que, obviamente, haja investimento de maneira séria, intensa e eficaz na utilização de meios alternativos de locomoção, como as bicicletas, e também na melhoria do transporte coletivo público).

Voltando às opções da enquete, é um tremendo engano pensar que os flanelinhas "só existem porque os motoristas pagam". Para começo de conversa, eles existem porque não têm outra ocupação. E, antes que outros argumentos caducos possam emergir, digo que muito me impressionaria que alguém que pudesse contar com outra possibilidade de emprego optasse por trabalhar na rua, debaixo de sol e de chuva, vigiando os carros dos outros, na maioria das vezes a troco de um punhado de moedas. Realmente não dá pra dizer que "ganham sem trabalhar", pois estaríamos sendo no mínimo sádicos. Trata-se evidentemente de um meio de sobrevivência.

Fica claro, portanto, que a solução para os vários e desagradáveis impasses que envolvem os flanelinhas depende de uma solução inclusiva, que não prejudique os motoristas, que proporcione ganhos para a cidade e que principalmente ofereça uma oportunidade para os cidadãos dependentes dos sub-empregos.

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