quarta-feira, 25 de abril de 2012

Piau e o Código Florestal





O relator do Código Florestal recém-aprovado pela Câmara dos Deputados se chama Paulo Piau.

Mineiro de Patos de Minas (mesma cidade em que nascera meu avô materno, o saudoso seu José), Paulo Piau é engenheiro agrônomo e produtor rural e foi eleito deputado federal (2011-2015) pelo PMDB-MG.



contou com uma colaboração dos empresários do agronegócio para se eleger. Mais de R$ 990 mil — o que corresponde a 41,7% dos R$ 2.380.528 que declarou ter recebido em doações — vieram de investidores que devem ter agradecido um documento menos rigoroso.

Conforme relata Márcio Santilli
Piau propõe a supressão de 21 dispositivos que retiram da lei todos os princípios e várias das definições dos tipos de áreas passíveis de conservação, todas as extensões de APPs (Áreas de Preservação Permanente), a competência do Ibama (Instituito Brasileiro do Meio Ambiente) para proteger espécies ameaçadas de extinção, os instrumentos que restaram para a proteção parcial de veredas, apicuns e áreas de pousio, além de recusar a destinação de parte do pagamento pelo uso da água para a recuperação de matas ciliares.
Juntando uma coisa (a campanha eleitoral de Paulo Piau obteve financiamento de poderosos ruralistas) à outra (o deputado, com a caneta na mão, fez de tudo para aliviar a barra de quem já passa por cima da lei ambiental com trator), o resultado é podre.

* * *

Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, piau é tanto "agressão física; surra, sova" quanto "engano propositado contra alguém; logro". 

Como diz o provérbio latino, "Nomen est omen" (Nome é destino). E o destino das florestas brasileiras, agora à mercê de sanção da presidenta Dilma Rousseff, infelizmente tem tudo para ser sombrio. Anistiar os desmatadores é permitir legalmente que se dê um piau sem dó em nossas matas.



domingo, 22 de abril de 2012

As cores de Kika

Uma grande crítica à sociedade do espetáculo e sobretudo ao rompimento das fronteiras entre público e privado promovido pela mídia sensacionalista, o filme "Kika" (1993), de Pedro Almodóvar, é uma trama cômica e bizarra que também nos apresenta, dentre outras coisas, o drástico modo como a realidade às vezes acaba transbordando para a ficção.

Este aspecto é ressaltado por um dos personagens centrais da trama: Nicholas Pierce. Galã de meia idade com pinta de cafajeste, Nicholas é um escritor norte-americano radicado na Espanha cuja mulher se suicida e cujo enteado, um fotógrafo introspectivo e narcoléptico, se apaixona e passa a viver com a maquiadora Kika após um insólito encontro.

Autor de romances centrados em crimes, ele confessa, em entrevista ao programa de TV de Doña Paquita (uma espécie de Palmirinha), que embora suas obras não constituam uma mera transposição de sua vida para a literatura, é inegável que haja muito de sua experiência em seus textos.

A grande questão é até que ponto a matéria literária se alimenta do real, e o desenrolar do longa-metragem acaba nos revelando, de forma esdrúxula e dramática, que não podemos nunca confiar totalmente na palavra dos ficcionistas.




* * *

Após a sessão caseira, procurei por algumas imagens de "Kika" na internet e fiquei fascinado com os posters que encontrei. (Foram eles, a propósito, que me motivaram a elaborar esta postagem. Não me ocorreu então nenhuma outra forma de apresentá-los de uma só vez.)

As célebres e marcantes cores de Almodóvar - uma assinatura inconfundível que, na telona, se exibe com esplendor e extravagância - preenchem os cartazes do longa-metragem com total versatilidade e, na maioria das vezes, de forma minimalista. 


Confira a seleção, escolha o seu preferido e adivinhe qual é o meu.




E viva Almodóvar!