O trabalho de revisão de textos, ao menos para mim, não consiste simplesmente na correção ortográfica e gramatical de um texto. É fundamental que o revisor não se limite a conferir se a palavra "casa" não está grafada como "cosa" ou como "caza". Cabe a ele atentar também para a fluidez e o estilo do texto, bem como para os elementos extratextuais (nomes de pessoas e lugares, datas e outras referências).
Em suma, é dever do revisor desenvolver uma leitura minuciosa da matéria textual, intervindo nela sempre que preciso a fim de que o produto final seja o melhor possível. Muito além de um capricho formal próprio de puristas da língua, a revisão serve aos interesses de todos: do autor, que não quer ver seu texto repleto de incorreções, e também do leitor, para quem todo texto deve ser fonte segura de dados e informações.
Um ótimo exemplo da necessidade de uma boa revisão encontra-se na edição de n. 44 da "Revista Nossa América", publicação oficial do Memorial da América Latina. O periódico traz interessante matéria sobre Portinari e a inédita exposição dos painéis "Guerra" e "Paz" no Brasil.
O texto, assinado pelo jornalista Eduardo Rascov, é acompanhado por algumas reproduções de obras de Portinari cujas legendas estão totalmente desencontradas.
Na página 26, um estudo para o painel "Guerra", intitulado "Mulher chorando", no qual há uma inequívoca figura feminina ajoelhada, às lágrimas, com as mãos nos cabelos, recebe a inusitada legenda de "Plantando bananeira" (1955):
Já na página 27, finalmente encontramos o desenho "Plantando bananeira". No entanto, a legenda indica que se trata da obra "Menino com diabolô", que sequer aparece na publicação:
Noutro artigo da mesma edição, em que o cientista político Helgio Trindade fala sobre a Universidade da América Latina (Unila), o sobrenome de nosso arquiteto mais célebre e longevo, autor do projeto do campus da Unila, aparece grafado como Niemayer. Duas vezes. Um erro inadmissível até para secundaristas desatentos.
Os exemplos citados demonstram que o trabalho de revisão envolve questões muito além da norma gramatical. Não se pode estar alheio ao conteúdo dos textos. Falhas graves como as apontadas acima não só ameaçam a credibilidade do periódico como também podem induzir leitores desavisados a equívocos desnecessários.
À equipe da revista, um alerta: é preciso, no mínimo, dar mais café para o revisor.
"Nossa Memória" é publicada trimestralmente e custa R$9, mas é possível ler e baixar gratuitamente a edição n. 44 por meio do link abaixo:
http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/revistaNossaAmerica/44/revista44-port.pdf