A bibliotecária responsável pelo cadastramento dos usuários e pela confecção da carteirinha parecia ter chegado junto comigo. Cada passo do processo se apresentava a ela como uma grande e demorosa novidade. Após tirar minha foto, demonstrou não saber o que fazer com ela por um longo tempo. O número do meu RG foi registrado com erro no documento, mas não me importei; havia acontecido o mesmo com a senhora que estava à minha frente. Educado, prefiri o silêncio.
O piso térreo é dedicado ao público infantil, e a criançada fazia presença em quase todos os espaços, à exceção dos corredores das estantes. Sem economia, vi apenas uma criança com um livro nas mãos. O resto estava totalmente entregue às atrações audiovisuais. Uma bela lan-house.
Subindo as escadas rumo ao setor dos adultos, dei de cara com uma estante intitulada "mais vendidos" - triste demonstração de que aquele papo de biblioteca-livraria era sério mesmo. Para distrair-me da depressão instantânea, passeei pelo que seriam as estantes de livros novos. O curioso é que a maioria dos livros do neófito acervo parece ter sido comprada há pouco tempo. Ao menos a literatura contemporânea tem destaque. A estante de obras de referência também contribuiu para a minha animação.
Depois de um tempo, deparei-me com livros já marcados pelo tempo, dispostos aleatoriamente em estantes baixinhas que margeiam os corredores laterais. Senti-me um tanto perdido ao vagar pelo espaço do andar de cima. Não que seja vasto, mas a organização dos exemplares é bastante precária, caseira mesmo. Uma vergonha para uma biblioteca. E talvez para uma livraria também.
Em sintonia com a bibliotecária que havia me recebido, o funcionário que então me atendia fazia questão de evidenciar que chegara precisamente naquele momento àquele posto. Eu sempre brincava, dizendo que nas repartições públicas, existe um que domina o ofício e o restante que lhe pergunta. Constatei que é a pura verdade.
Depois de 15 minutos, após observar a avançada disfunção tecnológica à disposição no balcão, pude cadastrar minha senha personalizada de quatro dígitos e levar comigo os livros.
Parece que temos tendência à insatisfação. Quero crer, no entanto, que trata-se apenas de não nos contentarmos com pouco. Há mais estandartes que estantes na Biblioteca de São Paulo. Muita estrutura, pouca literatura. Pensando em seus administradores, tenho a impressão de que a Poiesis se dedica, na verdade, a transformar instituições em aquilo que elas nunca foram. (Veja-se o Museu da Língua Portuguesa: inovador, interativo, mas de museu não tem nada.) Sei que laranja não é banana e não quero parecer conservador: tecnologia e interatividade são importantes. Mas não me agrada constatar que numa biblioteca os computadores tenham muito mais audiência que os livros.
Há que se reconhecer que o projeto é novo e muita coisa deverá ser feita ainda. Sinceramente, duvido que uma mudança substancial ocorrerá, dado que leitores não se criam do dia para a noite, ainda mais sem um projeto de Educação sólido e efetivo nas escolas. Mas meu coração não se cansa de ter esperança.
Atendimento
A Biblioteca de São Paulo funciona de terça a sexta, das 9h às 21h; e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 19h. A entrada é franca.
O estacionamento é pequeno e pago. Recomendo ir de metrô. Fica ao lado da estação Carandiru (Linha Azul). O endereço: Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 - Prédio 3 - Parque da Juventude.